Tenho a sensação, para muitos assuntos do mundo corporativo, que tudo que tinha que ser falado, já foi dito. Essa sensação para o tema trabalho em equipe também é verdadeira: parece que tudo já foi falado e todas as dicas já foram dadas. Realmente tem muito conteúdo sobre o tema. Quer ter uma noção com pequeno teste? Fazendo uma busca no google sobre a importância do trabalho em equipe apareceram 33 páginas, mais de 400 artigos sobre o assunto. Na Amazon, em uma busca simples com algumas formas de abordar o tema, como trabalho em grupo, como motivar a equipe, liderança de equipes e a importância do trabalho em equipe, renderam unas bons milhares de títulos.

Não seria por falta de estudo, por falta de informações que deixaríamos de ter uma empresa onde as pessoas trabalham perfeitamente em harmonia, correto? Mas a dura realidade, ao menos vista pelos meus olhos nesses quase 40 anos de jornada, mostram uma realidade muitas vezes muito longe de um ideal considerado como trabalho em equipe.

Poderia pontuar inúmeros fatores e algumas soluções ou práticas para se chegar em um melhor ambiente de trabalho onde as pessoas conseguem trabalhar harmonicamente em prol de um objetivo comum. Entretanto, não é esse o meu intuito. Quero pontuar algumas coisas que no meu ver são fundamentais para a construção desse ambiente onde o trabalho em equipe floresce e que sem eles, nada irá funcionar. Vamos aos aspectos que são os maiores detratores do trabalho em equipe.

O primeiro aspecto sempre será a comunicação. O velho guerreiro, Chacrinha [para quem não conhece, foi um comunicador que se tornou um ícone da TV brasileira] falava: quem não se comunica, se trumbica! Maior verdade, pois o emaranhado de inverdades que se criam dentro das empresas quando não há uma comunicação transparente, é impressionante. Esse emaranhado leva a mal entendidos, a conflitos e principalmente a perda do foco principal que é o trabalho.

O segundo aspecto tem a ver com a comunicação também: a escuta ativa. Fico impressionada como a prática de ouvir somente um lado da história ainda é corriqueira entre muitos líderes. Ouvir todas as partes é fundamental para que depois venham as conclusões. É necessário promover momentos de escuta com a equipe e que esses momentos sejam frequentes. Com tantos recursos que temos hoje em dia não há mais desculpas para não conseguir criar essas oportunidades.

Outro ponto importante é ter uma definição muito clara do papel de cada um e o que é esperado como resultados e entrega. Sem a clareza dos papeis é um terreno propício para a disputa entre quem faz o que o que e isso inevitavelmente gera conflitos. Sempre falei que antes de taxar alguém de incompetente é preciso ver se está claro para essa pessoa o que ela precisa fazer e o que é esperado dela. Essa falta de clareza gera um desalinhamento muito grande. Outro problema que gera com essa falta dos limites claros é gente metendo o nariz em assuntos que não dominam. Isso me faz lembrar da famosa frase do filósofo inglês Bertrand Russel: O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas… Essas certezas dos que não tem conhecimento do assunto podem levar o grupo e em consequência a empresa a decisões erradas e a conflitos na equipe.

Precisa falar que somente uma liderança facilitadora e inspiradora vai ajudar a criar um time que trabalhe em equipe? Aqui temos assunto para uma trilogia, não é verdade? Gosto de falar que é preciso gerenciar as coisas e cuidar das pessoas. A grande maioria fica focado nas coisas: é a planilha, é o controle dos indicadores, é o sistema, enfim, as coisas. Liderar é cuidar das pessoas: das relações, dar apoio, dar o exemplo, acompanhar e ajudar nas questões mais críticas, ser o ouvido e por aí vai…

A confiança é um ingrediente fundamental para esse espírito de time florescer. Quando em um grupo existem pessoas que não confiam umas nas outras, dificilmente teremos um time colaborativo.

A cultura organizacional é outro ponto indissociável para a criação de um ambiente que valorize o trabalho em equipe. É necessária uma cultura forte para não dar abertura para a competição excessiva que é a grande vilã de um ambiente colaborativo.

Por fim, queria pontuar as diferenças individuais. Personalidade, crenças e valores, estilo de trabalho: as pessoas têm formas diferentes de pensar, se comunicar e resolver os conflitos. Essa diversidade é importante e até necessária, mas quando as pessoas priorizam interesses próprios, ao invés dos interesses do grupo e da empresa, o espírito de colaboração fica prejudicado.

Obviamente que um assunto tão importante como esse e tão almejado pelas empresas, não se esgota aqui. E nem era essa a pretensão.

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